O mico do Cadico
Lendo o mico publicável do Leonardo, lembrei de um mico do Cadico, meu irmão mais velho.
Havia pouco tempo que ele morava em Porto Alegre e estava indo à Lavras para passar o fim de semana.
Viagem de ônibus e, diga-se de passagem, naquela época havia ligação asfáltica apenas até um certo ponto. Deste até Caçapava, e depois até Lavras, era tudo estrada de chão, chão batido, buracos, pedras... E, recordem-se, os ônibus não eram equipados com WC a bordo!
Pois bem, logo que o ônibus deixou para trás a Rodoviária de Caçapava, os "nós nas tripas" começaram a se manifestar. O trajeto de 64 Km era feito em uma hora, uma hora e meia. Segurar como, de que jeito? Ele tentava, haveria de conseguir... mas as cólicas aumentavam de intensidade e os intervalos entre elas diminuíam...
O Cadico lembrou de um professor que teve no Ginásio, que fez a mesma viagem, passou pelo mesmo apuro e que tentou resistir, à todo custo, até chegar em casa, em Lavras... Não teve sorte, o coitado do professor! Pois, desmaiou e quando acordou estava todo cagado. Dentro do ônibus, com todos à sua volta. Imaginem a cena!
Meu irmão, decidido a não passar pelo mesmo, e não teve dúvidas: foi até o motorista, explicou-lhe a situação e pediu que parasse ao avistar a primeira macega. Ah, à uma senhora que lia o jornal, pediu-lhe este, quase arrancando-o das mãos dela.
Era noite e quase todos dormiam, mas acordaram com o ônibus parando no meio da estrada. Algum tempo depois meu irmão volta, aliviado. E que alívio! Até aí, ninguém mais sabia o que realmente estava acontecendo, mas estavam curiosos. (Acreditava ele!)
Ao entrar novamente no ônibus, uma criança perguntou em alto e bom som:
-Mãe, o que o moço foi fazer no matinho?
-Cala boca, guri, continua dormindo!