domingo, novembro 26, 2006

O mico do Cadico


Lendo o mico publicável do Leonardo, lembrei de um mico do Cadico, meu irmão mais velho.
Havia pouco tempo que ele morava em Porto Alegre e estava indo à Lavras para passar o fim de semana.
Viagem de ônibus e, diga-se de passagem, naquela época havia ligação asfáltica apenas até um certo ponto. Deste até Caçapava, e depois até Lavras, era tudo estrada de chão, chão batido, buracos, pedras... E, recordem-se, os ônibus não eram equipados com WC a bordo!
Pois bem, logo que o ônibus deixou para trás a Rodoviária de Caçapava, os "nós nas tripas" começaram a se manifestar. O trajeto de 64 Km era feito em uma hora, uma hora e meia. Segurar como, de que jeito? Ele tentava, haveria de conseguir... mas as cólicas aumentavam de intensidade e os intervalos entre elas diminuíam...
O Cadico lembrou de um professor que teve no Ginásio, que fez a mesma viagem, passou pelo mesmo apuro e que tentou resistir, à todo custo, até chegar em casa, em Lavras... Não teve sorte, o coitado do professor! Pois, desmaiou e quando acordou estava todo cagado. Dentro do ônibus, com todos à sua volta. Imaginem a cena!
Meu irmão, decidido a não passar pelo mesmo, e não teve dúvidas: foi até o motorista, explicou-lhe a situação e pediu que parasse ao avistar a primeira macega. Ah, à uma senhora que lia o jornal, pediu-lhe este, quase arrancando-o das mãos dela.
Era noite e quase todos dormiam, mas acordaram com o ônibus parando no meio da estrada. Algum tempo depois meu irmão volta, aliviado. E que alívio! Até aí, ninguém mais sabia o que realmente estava acontecendo, mas estavam curiosos. (Acreditava ele!)
Ao entrar novamente no ônibus, uma criança perguntou em alto e bom som:
-Mãe, o que o moço foi fazer no matinho?
-Cala boca, guri, continua dormindo!
E todos fingiram estar dormindo.

sábado, novembro 25, 2006

Um Mico Publicável


Depois do projeto "Sonho Possível", o Leonardo do Indizível, solicitou
outra história, desta vez para o "Mico Publicável". Aí está:

Sempre digo que mico é que nem médico. Ou vice-versa.Tu paga... gostando ou não do resultado! E, nestas histórias de pagar mico, sempre lembro de umas férias em Chapecó.
A Clarice havia casado há pouco tempo e eu vim passar uns dias aqui. A visitá-la e conhecer a cidade. Ela ainda não estava trabalhando. Passávamos o dia inteiro "batento perna" na rua, ou de pernas para o ar, em casa.
Certa manhã estávamos na cozinha, eu, ela e uma vizinha de apartamento, a Suzana. Nesta época minha irmã morava num apartamento da galeria Milano, bem no centro de Chapecó( não sei que importância tem isso nesta história, hehehe. Só para registrar mesmo).
O chimarrão passava de mão em mão e o feijão já estava na panela e, a panela, ao fogo. Panela de pressão. Mas uma panela daquelas com muito, muito uso. Muitas horas ao fogo...
Conversa vai conversa vem, a panela começa a ferver. E é um festival de vapor. Saí
a por todos os lados e frestas, menos por onde deveria: pela válvula.
A Clarice pediu que eu desse um jeito na panela:
-Zeca, dá uma arrumadinha na panela, veja se consegue fazer com que pare de sair vapor pelos lados. Acho que tem que dar um jeitinho na tampa.
Eu tirei a panela do fogo, coloquei na pia, sob a torneira. Deixei cair água para esfriar e então pude abrir a tampa. A primeira providência foi virar a borracha. Voltei a panela para o fogo. O feijão ferveu novamente. Nenhum resultado, o vapor continuava rebelde!
- Zeca, diz ela, tenta de novo!
Lá fui eu, novamente. Tirei a panela do fogo, coloquei na pia, abri a torneira, esfriei a panela, abri a tampa, virei de novo a borracha, tentei um jeitinho na hora de fechar a tampa.
Quando o feijão voltou a ferver, e o vapor continuava a sair pelos lados, ela de novo:
-Zeca, tenta mais uma vez!
-Clarice, disse eu, tu não te deu conta ainda que o problema desta panela é que ela está velha, que precisas trocar, pelo menos, a borracha? Mas tu não queres te dar ao luxo de comprar um borracha, né!?
-Zeeeca, me respondeu ela, esta panela é da Suzana! Ela emprestou. Eu não tenho uma panela de pressão.
-Hã!
E murchei, corei e a vergonha ficou à mostra.
Mas em seguida veio o riso, a descontração e a roda de chimarrão continuou.
Tempos depois a Suzana saiu do prédio, foi morar em outro bairro, a Clarice também mudou e nunca mais eu a vi. Mas o mico que paguei pela "panela de pressão da Suzana" não esqueço nunca mais.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Sonho Possível

A Rosamaria me convidou para a corrente do Sonho Possível e eu respondo:
Não sou um sonhador, mas já fui!
Lembro quando íamos visitar minha avó, que morava em Santa Maria. Morávamos em Lavras e eu tinha menos de 8 anos...
Eu sonhava em morar com a Vó Duzolina, entrar para um grupo de escoteiros, estudar no MANECO (se possível tocar na banda Marcial), fazer um curso de inglês e entrar para a faculdade de medicina na UFSM.
E todo mundo achava que o meu sonho de criança seria realizado... era completamente possível!
Pois, bem!
Minha avó morreu quando eu tinha 15 anos.
Aos quinze, queria eu saber de escoteiros? humpf!
Fiz meu 2º Grau no "Científico" (E.E. de 2º Grau) em São Sepé, já morávamos lá.
No primeiro grau aprendi a odiar inglês, não entendo nadinha.... mas fiz um tempo de Aliança Francesa e até que entendo alguma coisa de francês.
E foi uma luta até eu conseguir que meus pais deixassem eu cursar Arquitetura, pois eles ainda sonhavam com um filho médico, ou advogado. Nenhum de nós escolheu estas profissões!
Penso, hoje, que um sonho possível não é um sonho. Sonho é onírico, é para ser sonhado, é não ter compromisso nenhum com a realidade, com o tempo, com o espaço. Um sonho possível deixa de ser um sonho para ser uma meta! Se é que queremos realizá-lo.
Mas, tudo bem, meu sonho possível é aprender a tocar piano, como minha prima Rosamaria. Afinal, somos neto de músico!
Quando eu morava em Pelotas, tempo de faculdade, passava todos dos dias em frente ao Conservatório. Ao ouvir o piano, dava uma inveja!!!
E, hoje, mais que um sonho possível, minha meta é morar em outra cidade. Abandonar de vez o (far)oeste catarinense.
Onde eu quero ir morar? Litoral catarinense está ótimo para mim!
Mais Sonhos Possíveis aqui: Projeto Sonho Possível

domingo, novembro 19, 2006

Octubre

Tudo bem, sei que já estamos em novembro.Mas não postei nada em outubro e já havia prometido para mim mesmo que neste mês reproduziria aqui a letra da música "Octubre" de Luz Casal e a ofereceria para a Thelma. Não encontrei nenhum link que abrisse a melodia em MP3, mas é possível ouvir um trecho aqui.

(foto capturada no blog da Thelma)

Octubre

El viento hará crujir las ramas,
la bruma vestirá su manta blanca.
Tantas hojas caerán,
la senda cubrirán.
Octubre tendrá su revancha.
El sol surgirá velado
y buscaremos el calor deseado.
Tus pañuelos en collar
tarde vas a encontrar
Octubre en la fuente durmiendo.

Volveremos a veren
las mesas de ayer
algún vaso abandonado
y un cielo bajo apenado.
Te daré una flor
y manteles de color
para ser de Octubre olvidados...

En la cumbre, allá en la colina
veremos todo
lo que Octubre ilumina.
Serán tuyas mis manos
abrigados los dos
frente al mundo que se inclina.

Volveremos a ver
en las mesas de ayer
algún vaso abandonado
y un cielo bajo apenado.

Te daré una flor
y manteles de color
para ser de Octubre olvidados...
Sin duda se verá en las ventanas
marionetas de vapor dibujadas
y nosotros jugando
como niños brincando.
Octubre quedará, quién sabe,
y nosotros jugando
como niños brincando
Octubre quedará, quién sabe.

Thelma, beijão para ti!

Manias, não. Hábitos!


A Rosamaria me passou uma bola: contar aqui 5 manias minhas. De cara, achei algo impossível, pois não tenho manias. Vou tentar alguns hábitos. Vale, Rosa?


1. Primeiríssimo lugar: minha cama tem que ser feita com os lençóis bem esticados, detesto dormir em cama mal arrumada, lencóis frouxos ou fronhas diferentes do lençol. Quando eu arrumo a minha cama, dou voltas e voltas ao redor dela para ter certeza que estão bem esticados e sem rugas!

2. Por favor, não me sirvam café em xícara e pires desparceirados. Prefiro somente a xícara.

3. Meu café da manhã se restringe a uma xícara de café preto e fumar um cigarro e, se tiver o jornal do dia: perfeito! Somente depois consigo lavar o rosto, escovar os dentes, tomar um banho, me vestir, comer alguma coisa, e pensar no que tenho a fazer durante o dia.

4. Quando lavo a louça, sigo uma ordem: primeiro os copos, depois os talheres, seguidos dos pratos e as panelas. Não é uma ordem natural? do menos engraxado para o mais engraxado!

5. E, se alguém for servir meu prato com arroz e feijão, por favor: o feijão em cima do arroz!

sábado, novembro 18, 2006

A Lareira da Tia Gasparina



Atendendo aos suplícios da Clarice que, diz ela, não agüenta mais acessar meu blog e ver o post anterior e aproveitando que eu estava devendo a um pedido da Thelma, aqui vai a história:
eu e minha família moramos em várias casas. Em Lavras tínhamos a nossa casa, mas quando fomos morar em São Sepé trocamos várias vezes de endereço, até a nossa ser construída.
Em todas elas, um móvel sempre era elegido para ser a nossa "Lareira da Tia Gasparina". Geralmente um móvel que ficasse na entrada principal, ou próximo a ela. Era escolhido sem nenhuma votação, apenas pela comodidade de, ao entrar-se em casa, ser um local fácil onde pudéssemos largar a pasta da escola, uma correspondência, uma chave, óculos de sol, ou ainda, um pacote de bolachas, um copo vazio, no caminho de volta da cozinha, enfim, qualquer objeto pequeno.
Minha mãe vivia juntado todos eles e colocando-os em seu devido lugar, mas nunca sem antes reclamar:
"Este balcão até parece a lareira da tia Gasparina!!"
Bem, a Tia Gasparina e o Tio Nico ( tios de meu pai) moravam em uma linda casa no centro de Lavras que, como toda boa casa lavrense, tinha um linda e enorme lareira. Um balcão que ia de uma parede à outra da sala. Como eram fazendeiros, passavam a maior parte do tempo
"lá fora" ( na fazenda). A casa da cidade somente era usada com freqüência nos meses de inverno. E a sala da lareira era a mais usada, fosse para o estar da família ou para receber as visitas.
Conta a lenda que ela era muito sovina, pão-duro mesmo! E a melhor maneira de ter controle sobre tudo o que fosse consumido em casa, era manter tudo à vista, à sua vista! E qual melhor lugar para tal? Qual? Isso mesmo, o balcão da lareira!!!
Dizem que ali ela guardava ovos, açúcar, biscoitos, frutas, bolachas, rapadurinhas, compotas, todo o tipo de guloseimas que mantinham em casa. E um agravante: as empregadas tinham como ordem de serviço ao fazerem as tais rosquinhas, rapadurinhas, biscoitinhos... providenciarem uma fornada que saísse bem dura, pois estas seriam oferecidas às visitas e a elas, empregadas da casa. Deste modo, não comeriam muito! Ouvi falar, ainda, que se uma empregada quebrasse um objeto era obrigada a usar um colar, feito com barbante e um caco da louça quebrada, que fosse, durante um mês. Assim conta a lenda!
Em minha casa, também tenho a minha "lareira da tia Gasparina". É um móvel antigo, colocado logo na entrada. Sempre deixo ali o cigarro, isqueiro, chaves, óculos, correspondências, jornal, celular. Na cadeira ao lado fica a bolsa, casaco ou camiseta (por vezes 3 ou 4). As vezes olho e penso: "Até parece a lareira da tia Gasparina!"
Já sei que está na hora de organizar tudo e guardar cada coisa em seu lugar.